A Lei dos Retornos Acelerados, proposta por Raymond Kurzweil, defende que as melhores tecnologias de um dado estágio da evolução tecnológica são usadas para criar o próximo estágio. Dessa forma, as novas técnicas são sempre mais capazes do que as anteriores, reduzindo o tempo entre resultados importantes, acelerando-os. Daí o nome da lei. O que podemos esperar são novas gerações de tecnologias cada vez mais capazes do que as anteriores.
No contexto da Internet das Coisas, os avanços exponenciais afetarão vários aspectos. O primeiro deles é a redução da escala física, pois quanto mais avançada uma tecnologia, menor sua escala. Podemos esperar dispositivos cada vez menores conectados à Internet, chegando em última instância a desaparecer diante dos nossos olhos..... Por exemplo, micro dispositivos que monitoram a saúde de pessoas, animais e plantas. Roupas inteligentes (eletrônica vestível), óculos conectados, relógios inteligentes são aplicações já em andamento. Animais de estimação também recebem coleiras e até mesmo plantas já podem ser conectadas. Existe um trabalho publicado na revista Nature sobre circuitos embutidos em plantas (veja Bionic roses implanted with electronic circuits, de Katherine Bourzac). São rosas biônicas, onde polímeros condutores são embarcados para permitir o registro e regulação da fisiologia das plantas. Tecnologias como essa criarão a disrupção em fazendas, permitindo monitoramento online de plantações e atuação em nível sem precedente nas plantações. É claro que tais disrupções precisam ser melhor investigadas, pois efeitos não desejáveis podem estar presentes, como em toda tecnologia. Percebam como no futuro nossas tecnologias irão se fundir com o mundo natural, de forma sutil e imperceptível. Poderemos moldar o mundo natural conforme nossa vontade. Uma possibilidade que ao mesmo tempo anima e assusta...
Temos assim o fenômeno da ubiquidade ou onipresença das tecnologias humanas no meio físico. De pessoas a cidades, de carros a fazendas, de animais a plantas. Um mundo conectado. Um estreitamento profundo entre o físico e o virtual. Nesse contexto, existem tantas questões morais e éticas que certamente precisaremos de uma nova gama de profissionais para lidar com elas. Muito se discute hoje os impactos das novas tecnologias no mercado de trabalho. Um assunto conhecido como futuro do trabalho. Ao mesmo tempo que muitas portas se fecham, devido à substituição da mão de obra humana por máquinas, novas se abrem. Esse é um exemplo de novas oportunidades que surgem com o avanço tecnológico exponencial.
Podemos esperar um aumento exponencial na conectividade de coisas físicas ao mundo virtual, o que gera sem dúvida um aumento na interatividade entre o mundo físico e o virtual. O resultado é a programabilidade do físico via representantes em software. Pegando o gancho com os exemplos anteriores, teremos corpos, plantas, estradas, prédios, casas, animais, etc., tudo programável. A ponte entre o natural e o virtual se dará através de programas de computador que representam o que é físico (e programável, via interfaces elétricas ou fotônicas muitos pequenas implantadas ou embutidas) através de plataformas de software. Ou seja, serviços que representam o que o físico conectado pode fazer ou medir. São os chamados objetos inteligentes. Um programa de computador que representa tudo o que um dispositivo pode fazer: medir, atuar mecanicamente, eletricamente, fotonicamente, etc. Objetos inteligentes representam o natural perante o mundo do software, vendendo as possibilidades dessa ponte que nasce com a Internet das Coisas.
O que acontece atualmente é que as disrupções criadas pela evolução tecnológica acelerada estão aumentando em muito o papel do software nas arquiteturas de informação. Cada vez mais o mundo natural será programável via objetos inteligentes e seus ecossistemas de negócios. Essa tendência vem sendo chamada de softwarização. Ou seja, teremos um mundo físico programável que se modifica em função das aplicações em nuvem. Existem tantas implicações dessa tendência que fica até difícil elencá-las agora. Mas, aos poucos vou explorando-as nessa coluna. O que se percebe é que cada vez mais nossas tecnologias visíveis serão programáveis e definidas por aplicativos em plataformas na nuvem computacional. Passando para a programabilidade do invisível ainda nesse século (veja o livro Physics of the Future: How Science will Shape Human Destiny and Our Daily Lives by the Year 2100, do autor Michio Kaku).
No próximo artigo, irei explorar um problema muito discutido no atual cenário de Internet das Coisas, que é como gerar valor via representantes de software? Como utilizar os dados provenientes da Internet das Coisas? Basta colocar em um dashboard (sistema de visualização de estatísticas de medidas) ou é preciso fazer algo mais? Vou discutir sobre a questão do valor para as aplicações. Como gerar valor na cadeia de negócios. Vou explorar os efeitos da softwarização em ambientes inteligentes, incluindo fazendas, saúde e cidades. Sempre colocando um olhar de futuro distante, para traçar um norte mais duradouro dos impactos esperados.