Nesse artigo, vou abordar exemplos de soluções para o chamado mercado das coisas, onde a capacidade de medição de sensores ou de atuação de atuadores é monetizada e acessada como um serviço. O mercado das coisas pode ser definido como viabilizar micropagamentos que envolvem recursos físicos de IoT e serviços de software. Ou seja, serviços que representam dispositivos de IoT vendem o que esses dispositivos são capazes de fazer e fecham contratos de uso exclusivo ou compartilhado de tais recursos.

A monetização de dados de sensores e atuadores converge dois mundos: IoT e tecnologias de registro distribuído imutável de transações, como por exemplo Blockchain. Blockchain é uma tecnologia de registro distribuído na qual as partes interessadas validam e armazenam transações via web. Ela não exige obrigatoriamente que as partes participem de uma rede de confiança, com reputação reconhecida. Ou seja, os interessados não precisam confiar uns nos outros para utilizar os registros realizados na rede. Cada nó que participa da rede guarda todas as transações que passam por ele. De tempos em tempos, o nó escolhe um conjunto de transações para validá-las de forma perene. Para tanto, resume essa transações em uma estrutura chamada bloco, que inclui também o resumo do bloco anterior (hash do bloco anterior) e um número desafio (isso quando se utiliza consenso por Prova de Trabalho). Se esse nó conseguir encontrar um número desafio cujo resumo do novo bloco tenha um certo número de zeros na parte mais significativa do resumo (hash do bloco), então ele propaga a sua solução ao resto da rede. Os demais nós, ao receberem a solução para o novo bloco, verificam se o número desafio de fato está correto. Se sim, eles acrescentam esse novo bloco na sua cadeia de blocos (Blockchain), tomando esse caminho como verdade. O nó que resolveu o desafio recebe uma recompensa que pode ser um valor em Cripto Ativo ou outros benefícios. Os nós disputam o fechamento de um bloco para receber esse benefício. Em Prova de Trabalho, diz-se que os nós mineram novos Cripto Ativos para participarem da rede. Blockchain permite o registro distribuído e imutável de informações em uma rede de consenso, permitindo monetizar o acesso a dados e a contratos de prestação de serviço. Como isso é usado em IoT é uma discussões mais acaloradas hoje.

Ouvi o termo economia das coisas pela primeira vez no contexto da proposta de arquitetura IoT Architecture (IOTA). IOTA é uma arquitetura de registro distribuído de informações perenes e imutáveis alternativa a Blockchain. IOTA utiliza uma estrutura chamada Tangle (emaranhado de hash). Nela, cada nova transação relativa a micropagamentos ou troca de dados valida duas transações anteriores. Ou seja, IOTA permite troca de valores ou dados de medidas a um custo de transação zero. Ou seja, ao contrário da Blockchain com Prova de Trabalho, a rede IOTA não paga pelo fechamento do registro de transações. O ganho que os nós tem é participar da rede. Hoje, o mercado de dados já faz parte do ambiente IOTA. Já é possível contratar via web sensores mundo a fora pagando pelo serviço de sensoriamento. A industria automotiva (em especial a Wolkswagen) está investindo em micropagamentos com IOTA para recarga de veículos elétricos.

Além da IOTA, soluções baseadas no ambiente Ethereum (Blockchain com Prova de Trabalho) estão sendo investigadas para o mercado das coisas. Ethereum permite a execução de programas de computador a partir da monetização de contratos registrados na sua Blockchain. Ou seja, quando um pagamento ocorre para um certo endereço relacionado a um contrato inteligente (Smart Contract), ele é monetizado e executado conforme desejado pelo criador. Assim sendo, trata-se da execução determínistica de programas de computador (serviços) que não pode ser impedida por terceiros, pois é executada pela rede distribuída a partir de registros na Blockchain. No Ethereum, os contratos mais populares para IoT são do tipo ERC-20.
Tipicamente, nesses contratos as transações tem custo, sendo pagas em uma outra moeda chamada Gas. Por isso, micropagamentos com Ether (a moeda da plataforma Ethereum) podem ter um custo mais alto do que em IOTA. Entretanto, IOTA até o momento não suporta contratos inteligentes, não permitindo executar programas determínisticos via Tangle. A iniciativa Qubic (Quorum-based Computation) visa introduzir contratos inteligentes em IOTA.

No ambiente Ethereum, novos ativos digitais podem ser criados via Smart Contracts. Eles são chamados de Tokens. São como um vale compras em Ether. Muitas Tokens são voltadas para a economia das coisas com Ethereum. Dentre elas podemos destacar: VeChain, Waltonchain, Ambrosus, Origintrail, dentre muitas outras. Uma lista interessante de Cripto Ativos para IoT pode ser encontrada aqui: https://cryptoslate.com/cryptos/iot/. Na data que escrevi esse texto, um mercado de US$ 1,09 bilhões. O topo do ranking é IOTA. Em segundo lugar vem Waltonchain, que é uma Token ERC-20 chinesa. Waltonchain integra RFID e blockchains hierárquicas para prover conexão entre o físico e o virtual, criando um ecossistema confiável de comércio de produtos rastreáveis. Obviamente, cada projeto desses tem suas próprias particularidades e complexidades, criando um ambiente rico de possibilidades a serem exploradas.
Antônio Marcos Alberti
Antônio Marcos AlbertiProfessor
Antônio Marcos Alberti é coordenador do Laboratório de Tecnologias da Informação e Comunicações (ICT Lab) do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). É professor, pesquisador, projetista de arquiteturas de informação e desenvolvedor em C/C++. Criador do projeto NovaGenesis. Autor de vários artigos técnicos e científicos.